
As doações da comunidade, as promoções (por hora suspensas devido à pandemia) com bingos e churrascos, rifas e providenciais empréstimos de outras capelas, estão permitindo aos moradores do bairro Ponta Fina Norte levar adiante um sonho antigo: construir uma capela maior, mas sem se desfazer do centenário oratório de seu padroeiro, Santo Antonin, que tem uma linda história (leia abaixo).
As obras começaram em fevereiro do ano passado e estão na fase final, com o reboco concluído. Deve iniciar agora a pintura e a parte elétrica. Com 114 metros quadrados e capacidade para abrir 80 pessoas, a capela provavelmente será uma das mais bonitas de Nova Trento quando ficar pronta, nas próximas semanas.

Seu interior terá piso, tendo à frente o altar, sobrelevado, e à sua direita um nicho especial onde ficará o padroeiro. Na direita, depois do pequeno sacrário, foi feita uma abertura para a sacristia.
O coordenador do oratório, Bento Marchiori, diz que a intenção de se construir uma capela maior tem pelo menos 11 anos e todos os esforços se fizeram para que as obras começassem e chegasse no estágio atual, com a participação apaixonada da comunidade, principalmente.

Como tudo o que havia em caixa foi gasto, a Paróquia São Virgílio prontificou-se a ajudar, fazendo empréstimo de dinheiro arrecadado em algumas capelas do município. Além disso, vendo tanta dedicação, a capela tem recebido doações de material e dinheiro.
O desafio foi manter a obra em andamento para que fosse entregue no final do ano passado, para também se comemorar o centenário do pequeno oratório a seu lado. Assim que terminar a pandemia, a intenção é voltar a fazer algumas promoções para arrecadar fundos, como bingos e churrascos.
A capela Santo Antonin está permanentemente aberta para receber doações, principalmente de tintas. Doações em dinheiro pode ser feitas na agência do Banco do Brasil 2356-6, conta poupança 9023-9, que está no nome da Mitra Arquidiocesana.
Um milagre, há mais de 100 anos
Bento Marchiori, coordenador da capela, fez uma pesquisa histórica em novembro de 2011, ouvindo e anotando o relato de algumas pessoas mais vividas da comunidade, como Cecilia Speranzini, Idalina Zandonai Speranzini e Ivo Piva, entre outras. Bento relata que não se sabe exatamente o ano em que a comunidade recebeu seus primeiros moradores ou fundadores. Estima-se que isso tenha ocorrido em 1900.
As primeiras famílias foram as de sobrenome Darós, Dadam, Maffezoli, Piva, Tomasoni e Zandonai, todos de origem italiana, filhos de imigrantes, e todos dedicados à agricultura. Em 1920, Domingos Zandonai, casado com Lucieta Trainotti, já tinha conseguido formar uma bela família de sete filhos, e com a força das mãos e enxada todos trabalhavam para o sustento.
Certo dia, ele e sua filha Maria, de 14 anos, estavam capinando milho perto do Rio de Braço. Ao entardecer ele pediu a ela que o acompanhasse na travessia do rio para colher abóboras na outra margem. Maria, já mocinha, não podia entrar na água fria, pois estava muito cansada e o suor escorria pelo seu rosto. Porém, obediente, acompanhou o pai.
Naquela noite Maria não conseguiu dormir e amanheceu sem quase conseguir abrir os olhos de tanta dor de cabeça. De nada adiantaram todos os remédios de ervas preparados por sua mãe. Eram tempos em que médicos e hospitais só existiam em Blumenau e com transporte a cavalo e carroça.
Abalado com o estado da filha, Domingos pediu para a esposa providenciar algum alimento e roupas para viagem e com a filha caminharam a pé até Brusque, pernoitando na casa de um conhecido. No dia seguinte conseguiram um carro de mola até Blumenau, onde foram acolhidos pelas religiosas do hospital, que logo se informaram da situação.
O único médico consultou Maria no dia seguinte e percebendo a gravidade do caso a submeteu a uma cirurgia na cabeça, retirando um coagulo de sangue. Pelo médico e pelas religiosas, Domingos ficou a par da gravíssima situação de como eles estavam impressionados com a resistência da adolescente. Abalado, o pai se recolheu na capela do hospital para rezar. Horas depois disso, outra notícia triste: o médico que cuidava de Maria faleceu de morte súbita.
Quando às irmãzinhas, que faziam o papel de enfermeiras, deram a notícia da morte do médico, disseram a Domingos que só um milagre poderia salvar sua filha, ao que ele se prostrou de joelhos, e como sempre foi muito devoto de Santo Antônio, fez um pedido de cura, prometendo que se fosse atendido construiria uma capela de agradecimento em sua honra.
Maria muito lentamente foi se recuperando e após oito meses voltou para casa. Seu pai já tinha encontrado o local ideal para construir a capela, doado pelo amigo Antonio Maffezoli. Encontrou outro amigo, Atílio Muraro, que já tinha certa prática, para a construção e, com a ajuda de mais pessoas da comunidade, a promessa foi cumprida no final de 1921.
Por décadas o pequeno templo ficou conhecido como Capela de Santo Antonin, talvez devido ao seu tamanho e da imagem do santo, que é pequena. Com o passar do tempo a capela passou por várias restaurações, porém sempre se cuidou de manter as características originais.
Maria Zandonai se transformou em uma bela mulher, casou-se com Jacomo Galiani, teve quatro filhas, ficou viúva e viveu até o ano de 1985, no bairro vizinho de Mato Queimado.





