Por Padre Benno Brod

Quem demanda a comunidade do Serraval tem a chance de passar por um dos mais aprazíveis caminhos do interior da paróquia. Mais ou menos um quilômetro e meio depois da igreja do Lajeado, deixa-se a estrada geral que leva a Aguti e entra-se à direita. E vêm então quatro quilômetros de inesquecível encanto: por meio da mata, o estreito caminho vai subindo, ladeando altos barrancos à esquerda e um fundo vale à direita, pelo qual desce um barulhento e alegre ribeirão.

Por fim, quando se sai dessa mata, abre-se a paisagem para um amplo e ensolarado vale: é o Serraval, cercado, por sua vez, por altos morros, também cobertos de matas. Um desses morros é o Bicudo, que as famílias de lá gostam de escalar, como diremos adiante.

No que escrevo a seguir, atenho-me às informações que algumas pessoas do Serraval deixaram por escrito e entregaram na secretaria da paróquia no tempo em que o Pe. José era pároco. A população do Serraval nunca foi muito grande. Chegou a ser de 15 famílias. Diminuiu muito e é hoje uma comunidade pequena de seis famílias. Tudo começou pelo ano de 1929, com as famílias de Bernardo e Alfredo Branga, que vieram, por uma picada, de Botuverá, do outro lado dos morros no lado norte.


Da muita mata que havia cortavam a madeira para fazerem suas casas. Promoviam alegres diversões, reunindo-se em casas de vizinhos e dançando.

Anos depois, por outra picada, maior, pela qual já se podia passar de carroça,chegaram algumas famílias neotrentinas. Entre elas os Bósio, Libardo e Molinari. O nome que então se dava ao lugar era Macacos, naturalmente alusão humorista aos muitos macacos que então havia naquelas matas. Pelo ano de 1952, o Pe. Da Poian, visitando e benzendo as casas das famílias, sugeriu que o nome de Macacos fosse mudado para Serraval, nome que faz poeticamente jus ao belo vale em plena serra e que lembra também a cidade de Serravale, na Província de Trento, na Itália, donde vieram muitos imigrantes.

No informe a que aludimos, os autores contam que as famílias, desde o início, trabalhavam na roça, o que fazem até hoje. Faziam suas compras em Botuverá, o que era mais perto, e onde o dialeto é o bergamasco, que alguns no Serraval ainda falam. Aos poucos, vieram mais famílias para o lugar: os Armelini, os Costa, os Paulini e outros.


Da muita mata que havia cortavam a madeira para fazerem suas casas. Promoviam alegres diversões, reunindo-se em casas de vizinhos e dançando.

Santo Isidoro Lavrador, protetor dos agricultores e dos animais. Foto: Divulgação

Todos eram católicos. Todos casavam na igreja. Inicialmente, as famílias iam participar das missas no Baixo Pitanga ou no Lajeado. Em 1962 construíram sua própria igreja,e a dedicaram a Santo Isidoro Lavrador, protetor dos agricultores e dos animais. Para essa primeira igreja muito ajudou a família Molinari, que sugeriu ao Pe. Da Poian comprar a imagem do padroeiro, e foi também essa família que doou o terreno para a igreja. Ao lado de Santo Isidoro, também é muito venerada e sempre foi muito festejada, inclusive com participação de muitos visitantes de outras comunidades, Nossa Senhora do Bom Parto, de que há uma bela imagem na igreja.

No lugar dessa primeira igreja de 1962, foi construída, em 1989, uma nova, de material. Na pedra fundamental foi inserido o documento de fundação. De um lado da igreja existiu, por muitos anos, a escola, onde a professora Bernardina acolhia 10 alunos da 1ª à 4ª série. Do outro lado da igreja, está o novo pavilhão de festas, construído em tempo recorde no ano passado, 2017. Por sua vez, na frente da igreja, havia, até há poucos anos atrás, uma cancha de “boccia”, onde grandes e pequenos se divertiam, mas que infelizmente um vendaval desmanchou e que ainda não foi reconstruído.

Foto: Carlos Pedrotti

Concluindo, digo com muita satisfação que, se é bonito o caminho que leva ao Serraval, as festas e as celebrações mensais da santa missa não são menos bonitas e alegres, pois todo o povo canta com animação e devoção naquela pequena igreja sempre bem limpa e arrumada. Quando não há missa, a comunidade celebra o culto dominical, presidido pelas ministras, que distribuem a santa comunhão. Além da festa anual de Santo Isidoro, sempre muito concorrida, também com a visita de festeiros que vêm das diversas comunidades vizinhas e de Botuverá, é sempre esperada com alegria a escalada ao Morro Bicudo, onde se faz piquenique e é celebrada uma missa.

Muita vegetação e poucos habitantes. Foto: Adriano Sartori

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