José Sgrott Filho é um pintor que no dia 1º de abril deste 2023 completa seus bem vividos 93 anos. Carrega nas costas, sem mostrar cansaço, o peso de sete décadas divididas entre a arte de pintar e a profissão de marceneiro. A descendência italiana, herdada dos avós, ele entrega no sotaque, no jeito e na boina marrom que usa acompanhada de camisa e calça social.

Esse figurino dá a impressão de querer ser transportado para aquelas imagens já envelhecidas de Nova Trento, onde nasceu no século passado.  Ao longo desses 70 anos, José fez dezenas de produções e exposições.

Para pintar os casarões, na técnica óleo sobre tela, um de seus temas preferidos, José usa livros sobre a história das cidades, dos quais garimpa fotos antigas destes lugares. Detalhista, busca um resultado final sempre perto do original, nunca artificial.

Inspirado em pintores italianos, ele sempre pinta personagens que não estavam na foto, para dar vida ao local retratado. Entende que pintar estes casarões é uma tentativa de deixar um registro para a história. “Flores e paisagens são passageiras, mas o casarão fica na história”, diz.

Quando ainda morava em Nova Trento, José já tinha aptidão para a arte. Mas aqui não tinha nem material de pintura para vender. Então, as primeiras pinceladas só foram ocorrer depois que ele se mudou para Brusque, aos 15 anos. A cidade era maior, diferente, só que as dificuldades persistiam. Sem poder pagar um professor, ele aprendeu sozinho, vendo fotos em calendários, lendo livros sobre arte e experimentando primeiro com guache e cartolina. Tinha o dom da pintura, mas não sabia mexer com a tinta, confessa.

Nesses 70 anos, José estima ter vendido, com dificuldade, mais de mil quadros, mesmo que a quantia paga por eles nem sempre fosse a mais satisfatória. Nunca viveu de arte. Sustentou a família de seis filhos com a profissão de marceneiro. Não tem horário para pintar. Trabalha no atelier em qualquer hora do dia, exceto à noite.  Já foi convidado para dar aulas, mas alega falta de tempo. Além de todo o trabalho com a pintura, ele ainda ajuda a mulher a cuidar do jardim que o casal cultiva no quintal de casa em Joinville.

Deixe um comentário

Por favor, digite seu comentário
Por favor, digite seu nome