Nos anos 1950 e 1960 do século passado, quando a população de Nova Trento patinava, por décadas, em cerca de 8 mil habitantes, a cada criança nascida um adulto ou sua família deixavam o município em busca de melhores oportunidades. Nessa época, surgiu o que parecia ser sua redenção econômica: a descoberta, no ano de 1949, de reservas de um até então desconhecido e muito valorizado minério, chamado tungstênio, nas proximidades da sede do distrito de Aguti.

Era uma nova onda de otimismo que se acendia em Nova Trento, então quase totalmente agrícola e com culturas de subsistência, depois de outra, surgida tempos antes e nunca confirmada, de que naquela parte do município encontravam-se jazidas de diamante. Tanto se falou no tal de metal, sem nunca ter sido explorado efetivamente, que até surgiu uma localidade com o nome de Diamante.

A “mina”, como era simplesmente chamada pelo neotrentinos, seguiu em atividades até o final dos anos 1960 quando, por motivos que nunca ficaram claros, parou de funcionar.  Entre os motivos oficiosos, estavam os altos custos de exploração, o fim da reserva do metal e, até, o surgimento de novas minas em outros lugares do Brasil, tornando sua exploração menos onerosa quando comparada à de Nova Trento.

Registro histórico

Foto: Cleber Battisti Archer

Em iniciativa pessoal, o professor aposentado e ex-vice-prefeito de Nova Trento, Godofredo Tonini, fez entrevista interessante, há dias, com José Bernardo Battisti, que foi por nove anos funcionário da empresa exploradora de minérios na mina, que fica entre as localidades de Três Barras e Morro da Catinga, próximas ao distrito de Aguti.

Para que tais informações não fiquem no esquecimento, pelo valor histórico que tem, “O Trentino” pediu autorização de Godofredo Tonini para reproduzi-las, uma vez que a “mina”, como ficou muito conhecida, ainda está na memória de muitos neotrentinos.

 ⇒ A empresa exploradora era do Estado de São Paulo, mas seu representante e responsável pela extração era um senhor de sobrenome Bianchini, da cidade de Brusque. Trabalhavam na mina em torno de 150 trabalhadores braçais, além das chefias.

O minério era cavado com picaretas e era também usado o dinamite, para apressar a retirada desse material. As galerias o túneis para se chegar onde estava o tungstênio, eram muitos. Alguns com 1.200 metros de extensão. O maior tinha mais de 2.000 metros. Havia também as entradas laterais, que eram ligadas aos túneis maiores.

 Na construção dos túneis, somente as laterais tinham proteção de madeira para escoramento; o teto era formado por pedras, que tinham 1,50 m de largura por 2 m de altura. Para iluminar as galerias ou túneis usava-se uma espécie de lanterna (lampião), conhecida como luz de carbureto, que produzia muita fumaça.

Marcas de picaretas ainda são vistas na mina. Foto: Cleber Battisti Archer.

 Não havia equipamento especial para purificar o ar aspirado pelos trabalhadores devido a poeira produzida durante a extração do minério. De vez em quando, os trabalhadores recebiam uma espécie de xarope, para amenizar a situação pulmonar.

  A água fornecida aos trabalhadores nos túneis ou galerias era captada nas nascentes próximas ao local de trabalho, levada em baldes por dois trabalhadores. Não existiam mangueiras na época. O horário de trabalho era de oito horas diárias, e o pagamento, mensal, sempre era pontual.

  O minério era retirado dos túneis ou galerias em carrinhos de mão (carriolas), depois lavado e moído. Em seguida era retirado por caminhões do pátio da mineração e posteriormente encaminhado para São Paulo.

  Nas dependências da mineradora aconteceram diversas mortes. Por  acidentes de trabalho faleceram dois trabalhadores, devido à explosão de dinamite. Chamavam-se José Daltroso e Edgar Bahr. Outros dois  trabalhadores, fornecedores de água para os que trabalhavam nos túneis ou galerias, escorregaram no Rio Alto Braço e morreram afogados. Três foram pescar e, supostamente, um deles foi lançado no Rio Alto Braço e morreu afogado.

⇒ Um senhor de sobrenome Rocha, que exercia as funções de dentista e farmacêutico, entre outras profissões,  e que residia próximo da mineração, faleceu repentinamente. O que se soube é que sua esposa, conhecida por Olguinha, teria arquitetado um plano para assassiná-lo. O fez serrando peças da patente (privada), que estava próxima de um barranco. Ao entrar nela, ela empurrou a frágil instalação, que despencou pelo precipício abaixo, causando a morte do marido.

Nas proximidades da mina residiam 15 famílias. As crianças estudavam na escola municipal que ficava na localidade de Três Barras, na entrada para a localidade de Serraval. A professora era Justina Lacerda, que lecionava para a 1ª e 4ª séries.

Um detalhe interessante repassado por Battisti a Tonini, é que no topo da montanha principal da mina, há um amplo espaço que daria para  construir um pequeno aeroporto.

Um metal de alto ponto de fusão

Tungstênio, conhecido por ser utilizado na fabricação do filamento de lâmpadas incandescentes, é um metal muito resistente à corrosão. É sólido, apresenta coloração branco-acizentado e brilhante nas condições ambiente. É também o elemento com o maior ponto de fusão e de ebulição da tabela periódica: respectivamente, 3422°C e 5657°C. Seu símbolo químico é W.

Os minérios fornecedores de tungstênio mais importantes são a wolframita (com o tungstato de Ferro-Manganês)  e a scheelite (tungstato de cálcio). A concentração deste metal na crosta terrestre é de 1,3 ppm.

Cerca de 75% das reservas mundiais encontram-se na China (o maior produtor), mas também são grandes produtores a Rússia, Áustria e Portugal. O Tungstênio é tão raro quanto o Molibdênio e, a depender da região de exploração, os dois metais podem estar juntos num mesmo minério.

Observando-se as reservas ao redor do globo (7.000.000 de toneladas), se as explorações continuarem no mesmo ritmo as reservas durarão pouco mais de 100 anos.

Aplicações

  • Ligas metálicas resistentes a altas temperaturas e corrosão;
  • Peças aeroespaciais;
  • Armamentos e munição;
  • Brocas de perfuração;
  • Filamentos de tungstênio para lâmpadas incandescentes.
  • Eletrodos para processo de soldagem a arco;
  • Catalisadores;
  • Lubrificantes para condição operacional de até 500°C (sob forma de WS2).
  • Fonte: InfoEscola

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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