Familiares, amigos, admiradores e ex-alunos participaram sábado passado, 18, na basílica do Santuário Santa Paulina, de uma missa em ação de graças pela passagem dos 90 anos, completados dois dias antes, da que é chamada a “pequena notável” da educação em Nova Trento, a Irmã Rosarita.

Com nome civil de Anna Stolf, nasceu em Rodeio, no Médio Vale do Itajai e com quase 3 anos mudou-se com a família para Massaramduba, onde concluiu o 3º ano primário. Sua vida simples de criança, de numerosa família de agricultores, seguia seu rumo tranquilo até que em um inesperado dia tudo mudou. Enquanto estava no pasto buscando o cavalo para o pai, que ia fazer compras, Irmãs Paulinas apareceram em sua casa em busca das chamadas vocações, para que jovens, crianças, praticamente, meninos e meninas, ingressarem na vida religiosa, em conventos ou seminários. Apesar de ficar interessada, o pai não deixou porque Anna tinha apenas 11 anos.

Mas a ideia de ser freira a dominou e convenceu o pai, católico fervoroso,  que autorizou que fosse a um convento de Rio do Sul, das Irmãs Salesianas, onde ficou até concluir o 3º ano do antigo ginásio. Mas o clima não era bom para sua saúde. Sempre franzina, como é até hoje, ficou tão doente que foi orientada a voltar para Massaramduba.

Nem precisou decidir tal destino diante de inesperado convite que mudaria o rumo de sua vida: junto com quatro colegas, foi convidada pelo padre José Balestieri  para vir a Nova Trento, onde já se fazia notar a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Tem nítida lembrança da viagem: veio na carroceria de um caminhão de carga, num dia de verão, levando uma malinha simples, com as poucas roupas que tinha  e muita coragem no coração.

Lúcida, mesmo nonagenária, lembra até hoje o momento em que viu a fachada do antigo Juvenato São José: “Era tudo diferente, um novo desafio. Olhei para aquele prédio e pensei: `Para salvar almas dá`”.   Também passou-lhe pela cabeça a determinação de aqui ficar enquanto viver.  Aqui completou todos os estágios exigidos pela congregação até fazer os votos no dia 16 de julho de 1955.

Educação – A educação infantil é parte da própria história de vida de Irmã Rosarita,  onde o contato e carinho que sempre nutriu pelas crianças foram fundamentais para seu trabalho na congregação.  Além de ministrar aulas para alunos das primeiras séries,  dava catequese todo domingo para as crianças do bairro Trinta Réis, locomovendo-se a pé, de hábito preto da cabeça aos pés, com guarda chuva para se proteger das intempéries do tempo.

A relação mais direta com a educação infantil começou em 1961, quando foi escolhida para cuidar de 90 crianças do antigo Colégio Pio XII, todas com idade entre 3 e 4 anos e uma única ajudante. Confessa que foi uma das poucas vezes em que sentiu medo, que logo superou.

Sempre inquieta – diz ser este um de seus segredos de longevidade – , enquanto atuava no lendário Jardim de Infância Padre Rossi, que era da Paróquia São Virgílio, fazia cursos profissionalizantes em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Florianópolis. Aprendeu a tocar piano, órgão e até acordeão. Até incursionou pelo teatro, fazendo apresentações para os pais de seus alunos no Salão Paroquial. Foi regente de diversos corais locais,

Mesmo com 90 anos, Irmã Rosarita ainda tem a educação no seu cotidiano. Até 2018 ida todo dia recepcionar as crianças em sua chegada no Centro Municipal de Educação Infantil e, depois, entrar nas salas e ajeitar os materiais para ajudar nas aulas das professoras. E agora, como terapia ocupacional, dedica horas do seu tempo em fazer recortes, enfeites temáticos e trabalhos artesanais, para doar às escolas.

Na lida com crianças desde os 18 anos, a religiosa sente as enormes diferenças nas formas de “educar” ao longo do tempo. Se hoje fosse como no seu tempo, admite, “estaria na cadeia”: “Valorizava-se o professor, que era extremamente respeitado pelos pais, e a disciplina! Hoje, muitos pais acham que  a escola não só tem que educar seus filhos, mas também ensinar-lhes modos. Uns nada se importam com isso”.

Em termos de comportamento, no aspecto positivo vê que as crianças de hoje não têm medo e enfrentam situações novas com muita facilidade, além de ter bom convívio social. Mas, de outro lado, nota que elas apresentam cada vez mais dificuldade de atenção e que são carentes. Atribui isso à falta de comunicação com os pais.

Mas nada que possa ser superado se na escola as crianças encontrarem bons colegas e professores que possam orientá-las no melhor dos caminhos. Sorte daquelas centenas que durante décadas sucederam-se como felizardos alunos de Irmã Rosarita, recebendo dela a luz para iluminar suas vidas, seguros e felizes, e sempre gratos à sua mestra, pequena e notável.

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