Depois de um ano e nove meses em Nova Trento, os médicos cubanos Osniel Jesus Alonso Iglesias, Yohandra Maria Busot Llerena e Liudimilla Adriana Cambara Diegues  estão se despedindo da cidade e das centenas de pacientes – e amigos – que aqui fizeram. Na noite de ontem, 21 de novembro, eles receberam  uma pequena homenagem em jantar oferecido pelo secretário municipal de Saúde, Maxiliano de Oliveira. Na manhã de hoje, embarcam de volta para Cuba.

Osniel, Yohandra e Liudimilla atendiam nas unidades de saúde do Besenello, Aguti/Pitanga e Claraíba, respectivamente. Com a saída do grupo , a Secretaria Municipal de Saúde teve que definir um novo cronograma de atendimentos médicos nas unidades básicas de saúde para dar conta das demandas da população neotrentina.

O secretário Maxiliano de Oliveira afirma que todas as unidades contarão com atendimento médico, que será feito pelos médicos brasileiros que já atuam na Estratégia de Saúde da Família (ESF),  Hélio Sandoval Barbosa Filho e Zenildo Ribeiro de Souza. O novo cronograma prevê carga horária média de um a dois dias em cada unidade, para que, desta forma, todas sejam atendidas.

Maxiliano faz um apelo para que, nesse período, a comunidade tenha paciência e compreenda a atual situação. Pede que se  continue procurando a unidade básica de saúde mais próxima da residência para consultas e demais trâmites. Ali, as enfermeiras das unidades orientarão como melhor proceder.

Nesse período, o pronto-socorro do Hospital Municipal Imaculada Conceição, no Centro, continuará com a prioridade de atender urgência e emergência. A exemplo de dezenas de outras prefeituras, a de Nova Trento aguarda os desdobramentos das providências do governo brasileiro, tanto atual como o que assume em 2019, para repor as mais de 8 mil vagas deixadas pelos cubanos.

O edital do Ministério da Saúde já foi lançado e os primeiros médicos – primeiramente se priorizará os brasileiros – serão contratados a partir da próxima semana. A reposição será, numericamente, idêntica às vagas deixadas. No caso de Nova Trento, são três.

Em dezembro de 2013, o município de Nova Trento recebeu pela primeira vez médicos cubanos vinculados ao Mais Médicos. Com a adesão ao programa, do início de 2014 até o mês de novembro de 2016, os médicos Yanier Penã Morales e Yanisleidi Blanco Quintana também atuaram na Secretaria Municipal de Saúde e Desenvolvimento Comunitário de Nova Trento.

No centro, de camisa azul escura e rosa, os médicos Yanier Penã Morales e Yanisleidi Blanco Quintana, que atuaram até 2016. Foto: Divulgação.

Avaliação é extremamente positiva

Por serem servidores públicos do governo cubano, os médicos preferem não fazer manifestações públicas. A amigos que fizeram em Nova Trento confessaram lamentar o que aconteceu. Mas com todas as pessoas com quem conversaram nos últimos dias disseram levar de Nova Trento um sentimento de profunda gratidão, não só pelos serviços que conseguiram prestar em quase dois anos, mas principalmente pelo reconhecimento da população.

A saída repentina e inesperada decorre da iniciativa do governo de seu país de romper o acordo que tinha com o Brasil no programa Mais Médicos, depois que este recebeu duras críticas do presidente eleito, Jair Bolsonaro. O futuro presidente qualificou como “trabalho escravo” a atuação dos profissionais de Cuba no Brasil, além de colocar em dúvida a qualidade do serviço prestado pelos médicos cubanos.

Pelo regulamento do Programa Mais Médicos, a prefeitura de Nova Trento tinha como único dispêndio de  sua presença no município o pagamento de um ajuda de custo mensal de R$ 2 mil para moradia e alimentação de cada profissional cubano. O governo brasileiro pagava à Organização Panamericana da Saúde (Opas) R$ 11 mil mensais para a atuação de cada médico. Desse valor, cerca de R$ 3 mil eram recebidos pelos profissionais de medicina e o restante ficava com a Opas.

Instado a fazer uma avaliação da atuação dos médicos cubanos desde que Nova Trento passou a contar com o programa Mais Médicos, há cinco anos, o secretário de saúde de Nova Trento assim se manifesta:

“Até 2013,  as secretarias municipais de saúde fingiam que tinham médicos e estes fingiam que trabalhavam. O atendimento deixava a desejar, por não ter o predicado humano, prevalecendo o técnico e operacional, mantidas as devidas exceções, é claro”. 

Maxiliano diz que os cubanos trabalhavam com outra filosofia, sempre voltada para a atenção básica, ao carinho e atenção com o paciente, sem distinção. “O enfoque, inclusive nos cursos de Medicina, passou a dar importância às questões de saneamento e de prevenção. Assim, se constata que o Mais Médicos tem um custo baixo e tem alta resolutividade, apesar de parecer uma ação oculta”, acrescenta.

A médica Yohandra Maria Busot Llerena. Foto: Imprensa PMNT
Liudmila Adriana Dieguez Cambara, à esquerda, durante sua atuação. Foto: Imprensa PMNT

A presença dos médicos cubanos no Mais Médicos em Nova Trento também tem uma avaliação muito positiva da população. Em uma pesquisa aplicada pela Secretaria Municipal da Saúde em julho deste ano, em todas as unidades municipais de saúde, os pacientes deram a eles nota 8,5 em uma pontuação de 0 a 10. O atendimento no Hospital Imaculada Conceição ganhou nota 7,9.

O secretario Maxiliano de Oliveira, sem esconder a emoção da despedida, só tem elogios aos três médicos que embarcam nesta quinta-feira  de volta à ilha caribenha:

“Durante todo o tempo que permaneceram em Nova Trento marcaram seu trabalho pela pontualidade, assiduidade, responsabilidade, compromisso e obediência. Demonstram uma paixão e extrema dedicação em sua missão”.

Osniel Jesus Alonso Iglesias, assim que chegou a Nova Trento para trabalhar, fez vários amigos e chegou a participar do Núcleo de Basquetebol do município. O que motivou a vir? Perguntou-se na época. “Gosto muito de ajudar as pessoas. Para mim, é também uma oportunidade de conhecer uma nova cultura”, ressaltou. Antes de vir para o Brasil para atuar no Mais Médicos, Osniel participou de treinamentos com médicos brasileiros sobre protocolos da medicina no Brasil e também estudou o idioma português.

Osniel: “Sempre gostei de ajudar as pessoas”. Foto: Imprensa PMNT

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