Foto: Divulgação

O neotrentino Evandro Battisti Archer viveu alguns dos momentos mais nervosos de sua vida nos últimos dias na cidade de São Francisco, no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos.  Famosa pela névoa, pela emblemática ponte Golden Gate, por seus bondinhos, por suas coloridas casas vitorianas e sede de empresas conhecidas mundialmente, se notabilizou por ser uma das primeiras da América do Norte a adotar duras medidas para conter a pandemia do coronavírus, ou Covid-19.  Seus quase 900 mil habitantes desde terça-feira não podem mais sair às ruas.

Pena, como é conhecido entre seus amigos em Nova Trento, voltaria para o Brasil só no final de abril, mas teve que comprar outra passagem, pagando muito mais, para poder sair da cidade sitiada, digamos assim. Como tinha tempo pré-determinado de permanência, agiu como todos os demais em situação parecida, principalmente estrangeiros, ou seja, sem nada mais ter o que fazer durante os próximos dias, quem sabe semanas, tratou de sua volta.

De Atlanta, onde fez conexão para retornar ao Brasil, onde chegou ontem, 19.  Evandro gravou um áudio que enviou para “O Trentino”.


 

Segue sua transcrição:

 

“São Francisco foi uma das primeiras cidades dos Estados Unidos a tomar medidas restritivas de combate à pandemia. Inicialmente a lei previa proibições totais para eventos de até 5 mil pessoas, que na cidade são muito comuns e promovidos pelas grandes empresas de tecnologia, como a Google, por exemplo. Tem também os famosos campeonatos como a NBA (basquete) e NFL (de futebol americano).  Esses dois são uma grande paixão e movem multidões. Dias depois o limite de público não poderia passar de mil, baixando em seguida até o máximo de 50 pessoas. Entre outras medidas destaca-se a suspensão total de aulas nas escolas. Minha escola de inglês fechou.

Desde semana passada tudo começou a ser mais radical, o que inicialmente causou muito susto, com a proibição de as pessoas não poderem sair na rua. É uma sensação muito estranha ver as ruas, até há dias movimentadíssimas, com pessoas, bicicletas, automóveis, sem quase ninguém, desérticas. Uma cena que realmente impressiona.

Na Market Street a mais importante da cidade, que era meu trajeto entre onde morava e meu principais compromissos, os guardas me paravam para perguntar onde ia; se não tivesse destino certo, me mandariam voltar para casa, sem reclamar.

Nesse trajeto foi possível ver um comportamento que estamos vendo no Brasil por estes dias: filas enormes nos supermercados, de gente tentando se abastecer ao máximo. Ficar em casa, que foi o que fiz mais no último final de semana e nesta, vendo tudo pela TV, me permitiu avaliar a dimensão da pandemia e o medo dos americanos, que não tinham uma ideia clara do que ela era até uns dias atrás.

 Sem saída diante de tal panorama,  eu e o grupo de brasileiros do qual faço parte começamos a pensar o que fazer. Com extrema preocupação, o desafio foi tentar sair da cidade, onde acho que não há nada mais a fazer para um estrangeiro até essa pandemia passar. Com prejuízos, porque a passagem da Gol, de volta, no final de abril, não deu para antecipar, consegui uma até Atlanta e dali outra para o Brasil. As últimas visões norte-americanas que tive foi ver muitos deles de semblante sério, de preocupação mesmo, e os aeroportos de São Francisco e Atlanta, sempre entupidos de gente, quase que completamente vazios. Uma cena difícil de descrever.

Mas nada que possa me arrepender ou ter uma sensação parecida pelo ocorrido,  porque fiz excelentes contatos e lá espero voltar. Fiquei muito feliz porque, pelo fato de ter sido professor universitário por mais de 10 anos, tive a oportunidade de estar na Universidade de Berkeley, reconhecida mundialmene pela qualidade de seu ensino, principalmente na área de tecnologia, e pretendo fazer laços acadêmicos também”.

Quem é

Evandro Battisti Archer é formado em Computação e tem o título de mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC. Foi durante 21 anos gerente corporativo na área de tecnologia do Grupo Portobello. Nessa missão que o levou aos Estados o objetivo é buscar a aproximação do Brasil com as grandes empresas de tecnologia, boa parte delas sediadas nos Estados Unidos.

O grupo que integrou foi de estudos de mercado envolvendo investidores em tecnologia. O objetivo foi e é promover a aproximação entre brasileiros e norte-americanos com intercâmbios e, sempre que possível, promover investimentos, inclusive de capital de risco.

Além de estudar a cultura americana na área de computação visando aproximar os brasileiros de grandes empresas sediadas na Califórnia e vice-versa, o objetivo de Evandro e do grupo foi, também, estudar inglês. Como muitos sabem, na Califórnia fica o famoso Vale do Silício, localizado na parte sul da região da Baía de São Francisco, que abriga muitas start-ups e empresas globais de tecnologia. A Apple, Facebook e Google são algumas das mais conhecidas. Na região, também há instituições com foco em tecnologia, estabelecidas próximas à Universidade Stanford.

Evandro conseguiu visitar algumas e na última que seria possível, a Linkedin, ficou apenas na entrada. A empresa já tinha vetado visitas, atendendo a rígida lei imposta na cidade.

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