Desde o sempre, até onde cabem lembranças, os neotrentinos reclamam em vão porque nunca, decididamente, houve uma medida mais séria e concreta do poder público quanto ao velho problema dos animais abandonados no município.

O tema voltou à baila com dois fatos: no início deste mês o vereador Luiz Rachadel (MDB) apresentou indicação na Câmara pedindo efetivas providências do Executivo.  Coincidentemente, na semana passada, a publicitária Daniele Vargas tornou público que um grupo de voluntários que se dedica à causa animal em Nova Trento está propenso a encerrar às atividades porque não consegue mais dar conta dos custos.

Rachadel propõe a contratação de médico veterinário ou clínica veterinária, para a castração de cães e gatos que vivem na rua ou ainda animais que pertencem a pessoas comprovadamente carentes. Anota que a superpopulação de animais é um caso de saúde pública e que cabe ao poder público municipal ofertar para a população uma iniciativa para controlar o problema enfrentado no município e esquecido pelas autoridades. Outra saída sugerida é que se coloque em prática a lei municipal 2650, de 2017, que trata sobre o controle e proteção de populações animais, bem como o controle de zoonoses.

Capacidade esgotada

A publicitária Daniele Vargas, coincidentemente, porque não sabia da iniciativa do vereador Rachadel, veio a público, na mesma semana passada, para informar, muito triste, que foi ultrapassado o limite financeiro e estrutural de um grupo de voluntários neotrentinos que se dedica à causa animal, de tal forma que não há mais condições de se fazer resgates de animais e custear despesas veterinárias enquanto não houver um reequilíbrio.

A dívida do grupo está em R$ 2 mil e lamenta que além de ter perdido alguns animais nas últimas semanas por não ter chegado em tempo de vencer a crueldade humana, poucas pessoas adotam seus animais adultos. Alguns cães, lindíssimos, estão há um ano aguardando uma chance.

Os voluntários relatam que a atual insegurança e medo do futuro que nossa sociedade está vivendo devido à pandemia, inevitavelmente reflete no número de adoções e influencia o aumento dos abandonos. Nos últimos meses eles assumiram casos muito difíceis, envolvendo cães idosos, atropelados, doentes e em situação de extremo abandono, que geram tempo de reabilitação física e emocional.

Nos últimos dias o desalento tomou conta dos voluntários diante da que parece a única alternativa: parar. A esperança está em uma rifa em andamento para arrecadar fundos: o valor é R$ 5 por bilhete. Interessados podem contatar com Daniele Vargas, Adriana Machado, Néia Nicolodi ou Alvina Buttichewts. Se alguém quiser ajudar de outra forma, tudo é muito bem-vindo.

Lei municipal

A lei municipal 2.650, sancionada pelo então prefeito Gian Voltolini dia 24 de julho de 2017, dispõe sobre o controle e proteção de populações animais, bem como o controle de zoonoses no município, sob regulação da Secretaria Municipal de Saúde. Só falta aplicá-la.

Estabelece entre os principais objetivos prevenir, reduzir e eliminar a morbidade (conjunto de causas capazes de produzir uma doença) e a mortalidade dos animais,  preservar a saúde da população, protegendo-a contra zoonoses e agressões de animais mediante o emprego de conhecimentos especializados e experiências em saúde pública

Prevê também a apreensão de todo e qualquer animal suspeito de raiva ou outras zoonoses, submetido a maus tratos por seu proprietário ou preposto, mantido em condições inadequadas de vida ou alojamento, cuja criação ou uso esteja em desacordo com a legislação vigente.

O artigo 6° proíbe os proprietários de animais de soltá-los ou abandoná-los em vias e logradouros públicos e privados, sob pena de sanções da legislação vigente. Também diz que todo proprietário de animal é obrigado a vacinar seu cão ou gato contra a raiva e leptospirose, e que o município poderá fornecer a vacina antirrábica em mutirões de vacinação.

O que os ativistas da causa sugerem também está na lei: o poder público pode celebrar convênio e parcerias com municípios, entidade de proteção animal e outra organização não-governamental, universidades, estabelecimentos veterinários, empresas públicas ou privadas e entidades de classe, para a consecução dos seus objetivos, principalmente quanto a vacinação e esterilização.

Providências

O prefeito Tiago Dalsasso foi informado dos casos e já decidiu por uma campanha de castração. Por isso quer ter um encontro com as entidades e  voluntários  que atuam na causa para definir estratégias e medidas efetivas.

Quanto à lei municipal, a pretensão do Executivo é operacionaliza-la em etapas, devido aos custos e às limitações impostas pela atual pandemia. Promete se reunir com os vereadores e as entidades o mais breve possível para deliberar como, quando e como fazer, incluindo, também, a possibilidade de Nova Trento ter um centro de zoonoses.

Solidário à causa, o vereador Jucelino Chini está preparando, junto com voluntários, a realização de um pedágio, ainda neste mês, visando arrecadar fundos para cobrir as despesas atuais e de uma futura  campanha de adoção.

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