Mais uma conquista da ciência e da tecnologia: em Nova Trento já se colhe duas safras de uva por ano, o que tem sido possível, no Brasil, somente de São Paulo, Minas Gerais e Espirito Santo para cima, especialmente ao longo das áreas quentes margeando o Rio São Francisco, no nordeste brasileiro. Agora com os experimentos concluídos, a produção dupla por ano está sendo possível na vinícola Villaggio Cipriani, no bairro Vigolo.

Essa é uma parte da extraordinária notícia sobre produção de uva e vinhos de qualidade em Nova Trento. Na mesma vinícola teve inicio em 2021 a produção de vinhos de alta qualidade. Foram 220 garrafas da variedade Marselan, vinificada em rosê, e 200 de espumante, da Chardonnay, cuja vinificação foi feita no Instituto Federal de Santa Catarina no município serrano de Urupema.

Tabu foi derrubado e NT produz vinhos de qualidade

Ricardo Cipriani, engenheiro agrônomo, 35 anos, sempre ouviu histórias de antepassados, no bairro Vigolo, que plantavam uva para produzir seu próprio vinho consumido em casa e só para a família. Aos 17 anos, no ano de 2003, ajudou o pai, Avelino, a plantar algumas centenas de pés da variedade bordô, para vendê-la a terreiros, destinando-a à produção de vinho. Mas sempre pensou: porque nós mesmos não produzir nosso vinho?

Mas sempre pensou: porque nós mesmos não produzir nosso vinho?

Aquela pergunta não raramente veio à sua mente nos anos seguintes e aos poucos o que era um desejo foi ganhando realismo. As primeiras respostas ao sonho começaram a aparecer em 2016, quando Ricardo começou a cursar Agronomia na UFSC. Com o histórico familiar ligado a uva e vinho, encontrou ali o professor Aparecido Lima da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos da Uva e do Vinho aquele que compartilhasse com ele o que tanto queria como um primeiro e importante passo:  trazer para Nova Trento algumas variedades novas de uvas. Onde plantá-las não seria problema, já que a família dispunha de uma área.

Quanto ao professor, não faltaram referencias. Paranaense, ele participou, junto com vários outros pesquisadores, do processo que começou no final dos anos 1990 e que derivou na agora milionária produção comercial de vinhos de altitude em 13 municípios de Santa Catarina localizados acima de 900 metros do nível do mar.

Assim, num belo dia de 2016 desembarcaram na casa de Avelino Cipriani, pai de Ricardo, as variedades BRS Vitória, BRS Isis, Thompson e Crinson, com 80 pés cada uma. Era o que havia de melhor naquele momento, todas cientificamente testadas e acompanhadas pelos estudiosos no assunto do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis.

No ano seguinte fez-se uma primeira experiência com testes de uvas viníferas (para elaboração de vinhos), das variedades Chardonnay, Pinot Noir e Marselan, com cerca de 500 pés cada.

Agora, cinco anos depois, Ricardo e seu professor concluíram que as melhores variedades de produção, com maior adaptação ao clima e as condições do solo de Vigolo, são as variedades Chardonnay e Marselan, que já estão na terceira colheita em uma área de 5 mil metros quadrados (0,5 hectare).

O professor e o ex-aluno afirmam que há um diferencial muito importante no cultivo e produção, além do solo e clima de Nova Trento: toda a área é protegida por cobertura plástica, o que garante razoáveis condições de temperatura das mais favoráveis possíveis, e controles sanitários.

A produção de vinhos iniciou em 2021. Foram 220 garrafas de Marselan, vinificada em rosê, e 200 de espumante, da Chardonnay, cuja vinificação foi feita no Instituto Federal de Santa Catarina no município serrano de Urupema.

Em meio hectare, com 200 plantas, está sendo possível colher uma safra agora e outra na metade do ano. 

O Herege, a marca

A primeira safra deste ano está sendo colhida por estes dias na vinícola de Vígolo. Deverá chegar a mil garrafas de espumante e 500 de rosê, ambas com a marca O Herege. Ricardo explica a escolha: “O herege é aquele que não acredita em verdades estabelecidas, e na região do Vale do Tijucas e em Nova Trento, especialmente, sempre se ouviu ´hereges´, sem nunca se provar de forma científica, ser possível produzir vinhos de qualidade devido a diversos fatores, principalmente o clima e o solo”. Provou-se que sim, é possivel.

 “O Herege”, a nova marca neotrentina de vinhos e espumantes veio para questionar e, tudo indica, eliminar tal dogma de forma definitiva.  Apesar de ainda modesta, a safra de 2021 fez sua estreia no mercado consumidor, com distribuição seletiva, incluindo restaurantes de alto padrão, para que consumidores habituais de vinho pudessem fazer uma avaliação dos produtos neotrentinos. Os primeiros retornos tem sido muito animadores.

Com o primeiro dogma derrubado – sim, é viável se produzir vinhos de qualidade em Nova Trento – Ricardo e o professor agora seguem em outros desafios. O principal é ampliar a produção em Vigolo e, paralelamente, fazer todos os experimentos possíveis de novas variedades. Ademais, esperam que os experimentos, que agora ganham uma conotação comercial, possam motivar outros investidores na produção de vinhos de qualidade tanto em Nova Trento como na região.

Duas safras por ano

Na série de experimentos que Ricardo e o professor Aparecido tem feito seguidamente, uma surpresa os deixou estupefatos e, em breve, deve causar enorme repercussão na vinicultora catarinense, na região sul e até brasileira.

O grande acontecimento, concretizado recentemente: em Nova Trento, e a partir de uma variedade cujo nome é mantido em segredo, está sendo possível colher duas safras de uva por ano. Uma de verão, em janeiro, que está acontecendo, e outra de inverno, em junho.

São 200 plantas produzindo, inicialmente, mas que brevemente devem ganhar expansão, tais os excelentes resultados. Os dois se permitem a fazer apenas uma revelação sobre sua importante descoberta: o segredo maior não está tanto na variedade, e sim na poda da planta.

Colheitas tão pródigas assim e que tem alguns resultados alvissareiros em Minas Gerais e São Paulo recentemente, há alguns anos são obtidos ao longo de todo o Vale do Rio São Francisco, em vários Estados do Nordeste do Brasil.

Lá, aquilo que se anunciava como um grande desafio, tal o estado inóspito das terras, se transformou em bilionária oportunidade. Quem sabe em Nova Trento este tempo esteja chegando. Ou chegou.

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