Antes de ler, dê o play no áudio e entre no clima da Incanto Trentino 2018!

Na coletiva de imprensa concedida pela organização da festa Incanto Trentino de 2018 foi confirmada a informação de que todas as pessoas que chegarem ao evento vestidas de forma “típica” não pagarão o valor da entrada, que é de R$ 8,00 para um dia e R$ 15,00 para um combo de sexta a domingo. Na abertura da festa, na quinta-feira, dia 9 de agosto, não haverá cobrança de ingresso.

É preciso reforçar, entretanto, que o visitante precisará efetivamente demonstrar uma tipicidade na vestimenta, ou seja, não vale apenas usar um chapéu, por exemplo. São necessários pelo menos três itens característicos, explica a coordenação.

Assim sendo, “O Trentino” apresenta uma pesquisa para ajudar as pessoas e conheceram a história das vestimentas de época na região do antigo Tirol Italiano de forma que possam ter elementos para produzir ou comprar seus trajes.

O uso e difusão de trajes típicos em Nova Trento iniciou-se após o centenário da imigração, em 1975, quando começaram os primeiros contatos com a Província Autômoma de Trento. Essa prática tomou impulso com o início da festa Incanto Trentino, no final da década de 1980, quando era muito comum ver pessoas, sobretudo crianças, usando esse tipo de roupa nos dias da festa. Nos últimos anos, porém, esse costume tem perdido força. É essa característica que a Incanto Trentino quer resgatar.

As crianças são um espetáculo à parte. O traje infantil segue os critérios dos trajes adultos, sempre bem coloridos.
Gruppo Folk Nea Tridentum, de Nova Trento, é uma ótima referência para quem deseja fazer um traje típico bastante conceitual. Foto: Divulgação.

As roupas típicas e sua história

As roupas camponesas que, na região do Tirol Histórico, se convenciona chamar “trajes típicos” datam, na sua maioria, do final do século 18 e início do século 19, após a reforma do Landesordnung (ordenamento territorial) tirolês nos tempos da imperatriz Maria Teresa da Áustria, pois a região de Trento pertenceu ao Império Austríaco de 1363 até 1918.

Até essa reforma, os camponeses eram proibidos de utilizar, nas suas vestimentas, tecidos considerados “de luxo”, como a seda e o veludo, devendo restringir-se a tecidos feitos em casa. O fim dessa proibição levou ao surgimento de grande variedade de vestiário festivo da população rural. No caso da região tirolesa, cada vale tinha seu modo particular de vestir, com características comuns a todas os vales, fossem tiroleses de língua alemã ou italiana (trentinos).

Na segunda metade do século 19, os trajes típicos começaram a cair em desuso em muitos vales do Tirol Italiano, e as roupas de festa dos homens passaram a ser as calças compridas com terno, gravata e, às vezes, colete. Essa já era a roupa de uso comum no período da grande emigração para o Brasil.  Assim, quando se buscou resgatar os trajes típicos tradicionais da pátria de origem, não havia referências em Nova Trento, pois os imigrantes, quando vieram, já não os utilizavam mais.

O traje masculino

Cartão-postal de Pieve Tesino – Trentino – 1850
Notem-se os largos suspensórios verdes, típicos da região sul do Tirol

O traje tirolês masculino é formado pelas braghe de coram (“calças de couro” em dialeto trentino), que é a mesma Lederhose usada no Sul da Alemanha e Áustria. Em todo o mundo, e especialmente em nossa região, esse tipo de roupa ficou conhecido como “traje típico alemão”, mas não é exclusivo dos alemães. Esse tipo de vestimenta é típico não somente do Tirol Histórico, mas também da região da Baviera, na Alemanha, onde acontece a famosa Oktoberfest. No resto da Alemanha, porém, a calça de couro não é usada. Trata-se de um traje típico dos Alpes, com seus suspensórios típicos (spalazi em dialeto trentino).

Originalmente, as calças de couro eram usadas para o trabalho e para caçadas, sendo por esse motivo relativamente curtas, acima do joelho. Na parte da frente, contavam com uma espécie de aba (“el patel” em dialeto trentino), abotoada na altura da cintura.

Em conjunto com as calças, utilizavam-se os característicos suspensórios de couro, que poderiam ser em forma de H ou em forma de V invertido. Nos dias de festa, junto com as calças de couro os homens utilizavam meias de lã até o joelho e um colete de linho, veludo ou seda por cima de uma camisa branca de linho. No pescoço, por baixo (e em alguns vales, por cima) do colete, utilizava-se um lenço colorido.

O cinturão colorido bordado, o chapéu e os meiões de lã são itens do traje típico masculino da região de Castello Tesino. É usado pelo Gruppo Folk Nea Tridentum de Nova Trento. Foto: Divulgação.
Traje antigo preservado na região de Primiero. Estão presentes o patel bordado, o colete, o cinturão de couro e o lenço no pescoço, além do chapéu.

 

Por cima do traje, vestia-se uma pesada jaqueta de loden (uma espécie de lã batida, muito quente). Completando o traje, até fins do século 18 utilizava-se um chapéu baixo de abas bastante largas, de cores diversas, predominando o verde e amarelo. Em meados do século 19, a maior parte dos vales havia adotado chapéus cilíndricos de feltro preto, de abas mais curtas. Atualmente, também é muito comum o uso do característico chapéu tirolês de três pontas.

O grande cinturão de couro bordado fazia parte do traje cotidiano na região oriental do Tirol Italiano (Primiero e Valsugana), sendo usado nas outras regiões trentinas apenas pelos sìzzeri (“atiradores”), pois apoiavam suas armas no cinturão. Trata-se de largos cinturões de couro com tecidos aveludados bordados em motivos florais, como aqueles utilizados pelo Gruppo Folk Nea Tridentum de Nova Trento.

Foto de cartão-postal do início do século XX mostra mulher em traje típico da região de Val di Fassa – Trentino

Assim como os trajes masculinos, os vestidos femininos também variavam de vale para vale, mantendo características comuns a toda a área alpina tirolesa. A roupa de trabalho das mulheres normalmente consistia num vestido simples com um corpete (corpèt em dialeto trentino) fechado na frente por uma fila vertical de botões e uma longa saia até os joelhos, com um avental por cima.

Os vestidos de festa, baseados nesse traje, eram feitos com um corpete justo, que no lugar dos botões era ricamente decorado com tirantes de cores e materiais diversos, como fitas trabalhadas e outros adornos. O corpèt utilizava tecidos mais nobres como a seda ou o veludo e era feito em cores mais vivas, como o verde, o vermelho, o amarelo e o azul.

A saia, que descia até os tornozelos, em geral era de pano simples e de cores escuras, como o preto ou azul-escuro. Por baixo do corpete, a camisa branca de linho normalmente tinha a gola e as mangas ricamente trabalhadas.

Na região de Castello Tesino, cujo traje típico feminino é um dos mais antigos da Europa (data do século 17), os tirantes e botões do corpèt são substituídos por elaborados bordados com motivos geométricos ou florais, como o traje feminino utilizado pelo Gruppo Folk Nea Tridentum de Nova Trento.

À esquerda: aquarela da década de 1830 mostrando os trajes típicos da região de Folgaria. Ao fundo, a cidade de Besenello.
À direita: versão moderna do traje típico – companhia de atiradores de Rovereto.

Completando o traje, utilizava-se um xale de seda ou bordado sobre os ombros, amarrado na frente ou nas laterais do vestido. Nos meses mais frios, era comum o uso de jaquetas de loden, longas até a cintura. Assim como no caso dos homens, o uso era facultativo durante os meses mais quentes.

O uso de chapéus era muito comum também entre as mulheres, sendo que os modelos eram os mesmos utilizados pelos homens. Caso não utilizassem o chapéu, as mulheres enfeitavam os cabelos com tranças, fitas coloridas e outros adornos.

Aventais longos, coletes e chales preenchem os trajes femininos.

Colaboração: Misael Dalbosco

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